quarta-feira, 29 de maio de 2013

OPINIÃO: QUE MODELO DE POLITICA DE SEGURANÇA PARA A GUINÉ-BISSAU

Política de Defesa e de Segurança

A política de boa vizinhança, de não ingerência nos assuntos internos dos Estados e o
princípio de intangibilidade das fronteiras que defenderá a nossa diplomacia
participará na nossa Política de Defesa e de Segurança. Deste modo, os riscos de
conflitos e de agressões por parte dos nossos dois Estados fronteiriços diminuirão.
Não será possível ter uma Política de Defesa sem reconciliar as nossas Forças
Armadas com o nosso Povo. As nossas Forças Armadas reflectem as contradições, os
conflitos da nossa própria sociedade. É necessário e urgente por conseguinte reformálas
tornando-as profissionais, republicanas e ao serviço do desenvolvimento.

a. A reconciliação entre as Forças Armadas e a Nação

O Ministro da Defesa tem por missão essencial a organização administrativa das
Forças Armadas e a aplicação da Política de Defesa Nacional sob o orientação do
Presidente da República que é o Comandante em Chefe das Forças Armadas e do
Primeiro Ministro. Em relação aos acontecimentos dos ùltimos trinta anos, existe um
contencioso profundo entre a nossa sociedade castrense e o resto da sociedade civil.
As novas funções das nossas Forças Armadas deveriam ser, além das suas funções
clássicas de protecção da integridade territorial :

- O apoio às políticas de educação e de saúde nas zonas mais recuadas do país ;

- A contribuição para o desenvolvimento da Guiné-Bissau, através do apoio à política

de saneamento, construção de estradas e pontes, de protecção das espécies animais ,

vegetais e do meio ambiente.

Estas acções de serviço público reconciliarão as nossas Forças Armadas com a
Nação. Tal são as acções que deverão ser efectuadas numa primeira fase, em conjunto
com a reforma em curso financiada e executada pela União Europeia.
A segunda fase consistirá em definir a Política Nacional de Defesa e de Segurança.


b. A Política Nacional de Defesa e de Segurança

A velocidade da divulgação da informação combinada com a das trocas de bens,
acentuada pela velocidade de circulação das pessoas, transforma o nosso ambiente
económico, social e político, que influenciam sobre os dados da Segurança Nacional
e Internacional, alterando a hierarquia das potências e por conseguinte multiplica,
diversifica e cria novas ameaças.Esta instabilidade das certezas de segurança impõe 
a definição de uma nova Política Nacional de Defesa e de Segurança adaptada às
ameaças do momento e do futuro.

A Guiné-Bissau está numa situação de maior vulnerabilidade : o terrorismo
internacional, o tráfico de droga, actividades subversivas de certos partidos políticos
com ideologia etnica-religiosa, sendo rodeada por crises na régião meridional da
República vizinha do Senegal – Casamance e a tentação hegemónica que poderia ter
o Senegal e a Guiné-Conakry, como materialização da vontade de expansão
territorial. A instabilidade crónica e os riscos de explosão política na Guiné-Conakry,
pode originar a deslocação de refugiados em direcção ao nosso País, que não terá
meios para enfrentar este movimento populacional massivo, criando assim focos de
insegurança.

As crises na Costa de Marfim – pulmão económico da nossa zona (UEMOA), Serra
Leoa e no Libéria, a consequência da subida dos preços dos géneros de primeira
necessidade, constituem tantas incertezas quanto a nossa segurança.
Convém definir uma estratégia de Segurança Nacional que dará resposta “ao conjunto
dos riscos e ameaças susceptíveis de perturbar a paz e a estabilidade na vida da nossa
jovem Nação”. A esfera de Segurança Nacional inclui a Política de Defesa, a Política
Externa e a Política Económica. A estratégia de Segurança Nacional articula-se 
em redor de três funções estratégicas cujas forças de defesa e de segurança 
devem ter o controlo: o conhecimento - antecipação-prevenção, a dissuasão, 
a protecção e a intervenção. A combinação destas cinco funções deve ser flexível 
e poder evoluir ao longo do tempo, adaptandose às modificações do ambiente estratégico.


Conhecimento-antecipação-prevenção

O conhecimento e a antecipação constituem uma nova função estratégica. Num
mundo caracterizado pela incerteza e pela instabilidade, o conhecimento constitui a
nossa primeira linha de defesa. É ele que garante a nossa autonomia de decisão e
permite à Guiné de conservar a iniciativa estratégica. O conhecimento deve oferecer
às instâncias de decisões políticas, como aos chefes militares, aos responsáveis da
segurança interna e à segurança civil, os meios para dispôr de elementos de previsão
para a acção. A informação em todas suas dimensões, incluindo espaciais.A prospectiva 
adquire assim uma importância essencial.

Protecção da População e do Território

A protecção da população e do Território Nacional devido ao aparecimento das novas
vulnerabilidades às quais estamos expostos directamente. O objectivo é proteger a
Nação perante crises de grande amplitude, aumentando ao mesmo tempo a sua
capacidade « résilience ». Esta define-se como “a capacidade dos poderes publicos e
da sociedade de responder a uma crise essencial e de restabelecer rapidamente o seu
funcionamento normal”. O exemplo típico desta noção é o conflito militar de 1998,
quando o País sofreu uma tentativa de invasão por porte de tropas estrangeiras, o
Povo organizou a resistência aos invasores reafirmando a nossa não disposição a estar
sob nenhum jugo estrangeiro.Reforçar « résilience » exige fazer evoluir os meios e os 
métodos de vigilância dos espaços nacionais, na sua dimensão terrestre, marítima,
aérea e doravante espacial, e desenvolvendo uma capacidade de reacção mais
rápida e mais larga dos poderes públicos.

Prevenção dos conflitos e intervenção

Com relação às nossas capacidades de prevenção dos conflitos e de intervenção, a
cobertura de um eixo geográfico prioritário, situado sobre a nossa fachada Atlântica
(o arquipélago dos Bijagos), as fronteiras marítimas e terrestres devem ser a
prioridade imediata. Neste âmbito será necessário reforçar a cooperação com os
exércitos nacionais dos Países vizinhos e participar nas manobras militares que serão
organizadas na nossa subregião com as grandes potências militares que têm interesses
geopoliticos (França, Estados-Unidos, Grã-Bretanha e agora China). Esta nova
 Política de Defesa e de Segurança exige um esforço de defesa É preciso um esforço
de defesa coerente, com a preocupação de :

Melhorar rapidamente a formação dos nossos oficiais superiores e oficias

subalternos nos domínios operacionais ;

A disponibilidade e a modernização dos equipamentos mais utilizados em

operações e lançar os programas ligados à informação e a preparação do futuro ;

Preconizar por conseguinte o reforço, prioritário da protecção dos nossos soldados

nas forças terrestres, navais e aéreas (protecção individual do combatente) ;

Manutenção em condição operacional dos materiais, capacidades de protecção

anti-aéria, e contra embarcações marítimas e submarinas ;

Importa o lançamento de novos programas no domínio do conhecimento antecipação
(observação, escuta electrónica, alerta avançada), em terra, no mar e
nos ares, com uma prioridade atribuída à marinha e à criação de uma unidade
aeronaval (helicóptero de transporte de tropas e de combate) que assegure as
capacidades de projecção das nossas forças navais no interior dos nossos rios, no
âmbito de abastecimento rápido do Exército e na participação no combate à longa
distância (100 Km da zona de fogo – podendo assim cortar os coridores de
abastecimentos do inimigo) no caso de conflito nas nossas fronteiras.
A Guiné-Bissau consagrará à sua defesa um esforço financeiro essencial e coerente
com as escolhas retidas para as suas capacidades militares, que será fixada por uma
Lei de Orientação Militar durante 20 anos.

Uma reorganização dos poderes públicos impõe-se para ter em conta esta nova
estratégia de Segurança Nacional. Um Conselho de Defesa e de Segurança
Nacional, presidido pelo Presidente da República, é recomendado. O Primeiro
Ministro dirigirá a aplicação do conjunto das decisões tomadas no Conselho de
Defesa e de Segurança. O papel do Parlamento será reforçado considerávelmente,
nomeadamente no que diz respeito à intervenção das nossas forças nas operações
externas e o acompanhamento dos nossos acordos de defesa. A Segurança da Nação
é trabalho de homens e mulheres que escolheram servir o seu país e o seu Povo. O
 objectivo da estratégia é permitir-lhes atingir o mais elevado grau de professionalismo
em todos os sectores, civis e militares. O professionalismo das nossas Forças de Défesa
e Segurança passa pela criação de um Colégio e de uma

Academia Militar, assim como de uma Academia de Policia.

A adesão da Nação é a condição « sine qua non » da eficácia da estratégia de
Segurança Nacional. Convém dar um impulso novo em vários domínios : a formação
dos jovens durante o recrutamento com aulas de formação cívica, a criação de um
Serviço Cívico, uma organização coerente e atractiva dos voluntariados susceptíveis
de serem mobilizados ao serviço da segurança da Guiné-Bissau. É necessário
 apoiar uma política de formação dos nossos agentes de segurança interna
 e externa mais aptos a trabalhar num contexto de Estado democrático, tendo
em mente a preocupação e do respeito das Liberdades Públicas, a propriedade
individual, sem diminuir a sua eficácia. A esse respeito, propomos que seja aberta
uma Académia de Policia, com formações sobre a luta contra o narcotráfico, o
branqueamento de capitais, a cibercriminalidade e a criminalidade financeira. Esta
reforma deverá ser acompanhada pela construção de estabelecimentos priosonais,
bem como a formação de um corpo de guardas prisonais formados para respeitar o
procedimentos judiciais e o direito penitenciário.

João dos Reis da Costa  
Email: jdodacosta@hotmail.com